Turismo
12/07/2018 19:16

A Agência de Desenvolvimento da Região das Hortênsias (Visão) emitiu nota de repúdio ao projeto de implantação do Complexo Hard Rock Hotel em Gramado.

Segue nota na íntegra:

“A Visão - Agência de Desenvolvimento da Região das Hortênsias, vem apresentar sua manifestação de repúdio nos seguintes pontos:

A proposta de implantação deste projeto não contempla benefícios sustentáveis de longo prazo para o município de Gramado.

A criação inicial de mais 900 leitos de hospedagem, ainda mais que vendidos em forma de quotas hoteleiras (fracionados), iria aumentar ainda mais a oferta já excedente de meios de hospedagem no município.

É sabida e notória a situação já calamitosa de diversos meios de hospedagem em situação de insolvência, considerados os altos custos de operação, locação e a oferta de meios de hospedagem por temporada ou em formato compartilhado por meio virtual.

O volume já aprovado de empreendimentos em regime de quotas hoteleiras fracionadas, em construção ou por serem construídos, já causa uma concorrência irresponsável com a hotelaria convencional e com o setor de construção civil, pilares do desenvolvimento e posicionamento turístico que nossa cidade alcançou.

O fato de haver neste projeto a instalação de equipamentos de alimentação, num complexo a alguns quilômetros de onde está instalado o comércio e a gastronomia da cidade, deixa clara a ideia de que os eventuais hóspedes terão a sua disposição, dentro deste complexo de 140 mil m2 todos os recursos que atendam as suas necessidades, deixado à margem todo o investimento já realizado em Gramado, para atendimento ao turista.

Nossa cidade não comporta sequer o volume atual de visitantes e moradores em períodos de pico quando falamos em mobilidade urbana. Concluídos os projetos hoteleiros e fracionados já aprovados, teremos literalmente um nó na mobilidade urbana, sendo impossível movimentar-se, seja cotidiano, a passeio ou a trabalho.

Há um déficit de segurança que já compromete a nossa atividade turística e cotidiana atual, com a ampliação potencial do volume de pessoas na cidade, estaremos nos tornando cada vez mais vulneráveis. A Segurança pública é de responsabilidade do poder público, não seria possível crer que os investidores deste empreendimento pudessem compor esta contrapartida.

Da mesma forma, há déficit em saneamento básico, fornecimento de água para a cidade, mais um problema que seria amplificado com a construção do complexo, mais uma responsabilidade do poder público que não dá suporte ao consumo já existente.

Um empreendimento desta grandeza iria necessitar de muita mão de obra para sua construção e posteriormente para sua operação. Há um déficit habitacional para a mão de obra produtiva atual na cidade. Onde toda essa massa trabalhadora iria morar? Onde seus filhos irão estudar? Em que estabelecimento de saúde seria atendidos?

Em que momento e de que forma, esta proposta é enquadrada no Plano de Sustentabilidade da cidade para os próximos 30 ou 50 anos?

A legislação que permite a comercialização de empreendimentos hoteleiros em regime de quotas fracionadas é incipiente e rasa. Nosso município vem sendo vilipendiado por grupos especializados na implantação de projetos desta natureza e tem a obrigação de limitar a sua instalação através de legislação municipal, sob pena e risco de falência completa dos equipamentos de hotelaria e gastronomia já instalados na cidade.

Já beiramos o caos em infraestrutura de mobilidade urbana, saúde, educação, segurança publica e saneamento básico, todas estas demandas são de responsabilidade da gestão pública. Como pode a gestão publica pensar em aumentar a demanda sem oferecer infraestrutura?

O projeto apresentado com a expressão Prefeitura Municipal de Goiânia, deixando claro que Gramado não é a primeira cidade onde este projeto busca aprovação, ou seja, interessa o negócio e a sua rentabilidade, de nada importa onde, desde que seja um indutor conhecido.

Seria provinciano o pensamento de que um empreendimento de tamanho impacto possa ser saudável para a cidade. Seria saudável financeiramente aos incorporadores, que concluído o empreendimento passam a colher os resultados, deixando o custo social para o município.

A arrecadação de impostos que um empreendimento deste porte traria, cobririam os prejuízos sociais, mobilidade, segurança, saneamento e econômicos gerados em escala.

Respeitamos a história do Hard Rock Hotel e entendemos que se a marca quer se instalar em Gramado, portanto respeitar a legislação para instalação de hotéis em condições, que privilegia o conforto e segurança dos hóspedes, a sustentabilidade de negócios novos e principalmente, de negócios já existentes.

Entendemos que Gramado deve se posicionar de forma a defender os investimentos já existentes e ativos, que hoje requerem atenção da gestão pública.

Precisamos, antes de ampliar, mantermos o que já temos instalado em respeito aos investimentos já realizados e considerando as carências que já temos. A gestão pública deveria buscar soluções que contemplem a sustentabiliade da cidade com vistas a um planejamento de longo prazo e não a utilizar-se de um pensamento de curto prazo que tragam custo social para o município.

Assim finalizamos este manifesto, com o intuito de sinalizarmos a necessidade iminente de uma consulta pública mais ampla e fundamentalmente que a comunidade também se responsabilize por suas decisões”.

Pedro Andreis
Presidente
VISÃO AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO DAS HORTENSIAS